quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cesárea não é parto, é cirurgia!



Por: Ana Paula Barata Vasconcelos

Me impressiono como hoje em dia as pessoas acham mais seguro a mulher ter filho através da cesárea do que parto normal. Na saúde suplementar os índices por vezes chegam a 90% de cesareanas, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) recomenda que o máximo deva ser de 15%.

Pelo que eu tenho ouvido de praticamente todas as mulheres que eu conheço, há muita falta de informação, até mesmo de mulheres que trabalham na área da saúde. Já ouvi de uma chefe de enfermagem que "mil vezes a cesárea", por que ela tem facilidade de cicatrização. E outra, quando falei que queria PN, a primeira pergunta que me fez é se não havia circular de cordão..Ainda tem gente que acredita que circular de cordão mata bebês!! Quando sou questionada sobre a data do parto, sempre respondo que não sei, pois será a minha filha quem decidirá quando virá ao mundo, e que lhe darei um lindo Parto Natural, e em troca ouço uns "por queeee?", "coitaaaada", "ai, tô até com pena de ti!", "tu tá doida, é?". A mais recente foi a que eu escutei da sobrinha de 13 anos do meu marido, quando disse à ela que teria um parto de cócoras. Ela fez uma cara de dúvida e perguntou como seria possível fazerem o corte da barriga naquela posição! Então bebês só nascem através de um corte na barriga? E como as índias fazem? E como os bebês nasciam antes de existir bisturi?

Mas a verdade é que na cabeça da maioria das mulheres o parto natural é "uma tortura" que "pode matar mãe e bebê", e a cesárea surge como "libertadora" desse sofrimento. Mas por que isso ocorre?

Bom, tenho duas teorias, que se somam uma à outra, a esse respeito.

A primeira vem do fato de certos protocolos terem sido adotados alguns anos atrás durante o atendimento ao parto. A mulher era obrigada a ficar deitada durante todo o trabalho de parto, com as pernas em estribos, e lhe mandavam fazer força a cada contração. Essa posição por si só já dificulta o processo de dilatação do colo uterino, além de que fazer força antes do período expulsivo aumenta a dor durante as contrações. Alguém vinha a toda hora fazer o exame de toque pra medir a dilatação, expondo a mulher a todo momento. Aí o trabalho de parto empacava, e aparecia a pressa do médico, e vinham as intervenções: aplicação de ocitocina (que acelera o parto, porém intensifica as dores), o corte nada modesto da episiotomia, e a Manobra de Kristeller (ato em que alguém pressiona a barriga da mãe na tentativa de empurrar o bebê). Tudo isso leva à mulher a sentir mais dores, e isso tudo sem poder reclamar nem gritar, porque aí vinha uma enfermeira lhe repreender, com frases do tipo "na hora de fazer gostou, né?", "Cala a boca! Era assim que gritava na hora que tava fazendo?". Como uma mulher vai conseguir parir com tudo isso? Aí o bebê não saía meeeeesmo, e vinha o fórceps de alívio, muito mal manejado, causando cortes e machucados nos bebês. Depois disso, a falta de paciência ainda resultava em um tracionamento do cordão umbilical a fim de forçar a saída da placenta, lesionando a parede uterina e aumentando o sangramento da mãe.

Horrível, não? Realmente, ter um parto assim é uma tortura. Esse é o que chamamos de Parto Frank, e hoje em dia a OMS condena tais práticas e orienta os hospitais e profissionais de saúde no sentido da humanização do parto (trataremos mais sobre isso em outro post).

Agora a outra teoria, que não substitui a primeira, apenas acrescenta:

Quanto você acha que um obstetra recebe por um PN e por uma cesárea? Vamos analisar: no PN o trabalho da obstetra se limita a avaliar a saúde da mãe e do bebê (o que muitas vezes pode ser feito por outro profissional de saúde), segurar o bebê na hora que ele sair, cortar o cordão e por vezes costurar alguma laceração no períneo da mãe. Quase não dá trabalho, então não há justificativas para grandes custos. Além disso, um trabalho de parto leva horas, obrigando o obstetra a desmarcar consultas e outros compromissos, além de às vezes ser acordado no meio da noite pra atender à parturiente. Agora, numa cesárea, precisa do acompanhamento do anestesista (que pode ser grande amigo do GO, e estar precisando de uma graninha..), do uso de instrumentos cirúrgicos, corta-se 7 camadas de tecido, todas elas terão de ser costuradas depois, há prescrições de medicamentos pós-operatórios (beneficiando laboratórios). Os custos são mais elevados e o GO recebe mais por isso. Além de o médico saber o dia e a hora que aquela criança vai nascer, a cirurgia dura cerca de 30 minutos e pronto.

Assim há um grande interesse entre os GOs de prescrever cesáreas em vez de esperar o parto normal, e os médicos acabam aterrorizando as pacientes, dizendo absurdos sobre o PN, e as "maravilhas" da cesárea, sem esclarecer seus riscos, e nunca falam das vantagens do PN.

Cesárea é um ato cirúrgico de grande porte, e como tal oferece riscos. Vejamos alguns:

Para a mãe:

  • reação anafilática à anestesia
  • hemorragias causadas por cortes de vasos (risco 10x maior q no PN)
  • cortes de órgãos por erro médico
  • maior risco de infecção se comparado ao PN
  • aumento da taxa de morbimortalidade materna em até 4x, se comparado ao PN
  • risco de infertilidade após a cirurgia
  • possibilidade de ruptura uterina em próxima gestação
  • risco aumentado de desenvolver endometriose
  • risco aumentado de tromboses
  • maior incidência de inserção baixa da placenta e placenta acreta em gravidez posterior
  • maior índice de depressão pós-parto (30 a 40x maior)
  • demora na "descida do leite".
  • risco de paralisação dos intestinos
Para o bebê:

  • risco de desconforto respiratório
  • maior risco de prematuridade fetal, uma vez que as datas de concepção não são precisas e que o amadurecimento varia de um indivíduo pra outro
  • risco de morte aumentado em até 10x se comparado ao PN
  • risco de cortes acidentais
  • probabilidade maior de desmame precoce
  • afastamento da mãe por várias horas
  • dificuldade de aleitamento
  • dificuldade de vínculo com a mãe
  • maior risco de internamento na UTI
Então a cesárea é o vilão da história? Não, não é. Ela é realmente salvadora: quando há risco REAL de morte ou seqüelas graves para mãe e/ou bebê, e somente nesses casos, pois aí sim os benefícios superam os riscos. Porém nos casos de cesárea eletiva, a pedido do GO ou da parturiente, não há motivos para submeter mãe ou bebê a tantos riscos desnecessários.

5 comentários:

  1. Menina, que post fantástico! Muito lúcido e cheio de energia!
    Kd vc nas reuniões do Ishtar(http://espacoishtarbelem.blogspot.com)?
    bjs
    Thayssa.

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  2. Obrigada. bora ver se a mulherada lê isso, né?
    rsrs
    Beeeem... no últimos 2 encontros assumo que meu marido e eu não cnseguimos acordar. estamos esperando o próximo!!

    beijos

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  3. Nossa! amei seu artigo...ainda não tive bb, mas sempre pensei no PN, porém todo mundo fica dizendo q sou louca e bla,bla,bla.
    Minha preocupação é com a história do cordão enrolado no pescoço, será q da pra fazer um PN msm nessa situação? Já virei sua fã! bjs!!!

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  4. Rafaela,
    obrigada pelo comentário. estás esperando bebê?

    Em relação à tua dúvida de cordão no pescoço, te sugiro que leias o post "Circular de Cordão, Cesárea ou Não". nele poderás tirar tuas dúvidas.

    http://partocomamor.blogspot.com/2011/04/circular-de-cordao-cesarea-ou-nao.html

    Beijos

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    1. muito bem meninas eu gostei de tudos os comentarios e tudo muito bonito o qe disem os medicos ms na verdade eu queria um PN e infelismente nao tive tive de ter uma ceseriana de urgençia senao eu ao a bebe muriamos eu tive qe fazer uma escolha mas estamos bem e por sorte estamos vivas grassas a DEUS mas nao e o fim du mundo um beijao ara todas

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